Agricultura ecológica
O que é a agricultura ecológica e por que é boa para o planeta?
Saúde Comida Agua Biodiversidade
A agricultura é uma das atividades econômicas que mais polui, afeta tanto a atmosfera quanto o solo e a água. Portanto, em plena luta contra as mudanças climáticas, é imprescindível adotar um modelo comprometido com a sustentabilidade. A alternativa é a agricultura ecológica, que se baseia no respeito às dinâmicas naturais dos ecossistemas e que, em última análise, é a mais respeitosa com o meio ambiente, além de ser mais saudável.
De acordo com a Organização das Nações Unidas (ONU), em 2050 haverá mais de 9,5 bilhões de seres humanos no planeta, o que exigirá produzir muita comida, embora não seria necessária uma produção tão elevada se houvesse uma redução no desperdício de alimentos. Atualmente, a agricultura e a pecuária geram 23 % dos gases de efeito estufa segundo o Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC), um dado inquietante que sugere que devemos repensar o modelo para as futuras gerações.
A agricultura convencional é uma das principais causas de perda da biodiversidade, pois também gera outros impactos indesejados ao aumentar a poluição do ar, da água e do solo com o uso de produtos químicos que, por sua vez, envolvem riscos para a saúde. Diante desse cenário, a agricultura ecológica, que se fundamenta na gestão do ecossistema e não na utilização de insumos agrícolas, é mais importante do que nunca. Adotar esse modelo em busca de uma alimentação mais sustentável, junto a novas práticas como a hidroponia ou as foodtech, pode ser uma alternativa mais viável.
O que é a agricultura ecológica
A agricultura ecológica é um sistema de produção agrícola baseado na utilização de processos e recursos naturais, uma vez que não utiliza produtos químicos como fertilizantes ou pesticidas nem organismos geneticamente modificados (OGM), pois visa obter alimentos mais saudáveis e nutritivos ao mesmo tempo que protege a fertilidade do solo e evita a propagação de pragas respeitando o meio ambiente. É um sistema que em vez de utilizar insumos agrícolas, realiza práticas específicas dependendo das características de cada ecossistema.
O desenvolvimento dessa união entre agricultura e ecologia aconteceu durante o século XX como resposta à generalização do uso de certos pesticidas e fertilizantes, que prestigiados estudos associam com doenças como Parkinson ou diversos tipos de câncer, assim como com a redução da população de algumas espécies animais. Atualmente, a agricultura ecológica baseia-se tanto nas boas práticas agrícolas do passado quanto nas inovações tecnológicas vinculadas à smart farming (agricultura inteligente) e aos conhecimentos modernos sobre fertilização do solo ou manejo de pragas.
VER INFOGRÁFICO: O impacto da agricultura ecológica [PDF] Link externo, abra em uma nova aba.
Objetivos da agricultura ecológica
De acordo com a Comissão Europeia (CE), cerca de 8,5 % da superfície agrícola da União Europeia (UE) se destina a cultivos ecológicos, uma taxa que chegará a 15-18 % até 2030. Para intensificar esse tipo de cultivo a CE possui um Plano de Ação para o desenvolvimento da produção ecológica [PDF] Link externo, abra em uma nova aba. por meio do qual espera aumentar essa cifra para 25 %. Segundo esse mesmo organismo, os objetivos da agricultura ecológica são:
- O uso responsável da energia e dos recursos naturais.
- A manutenção da biodiversidade e do bem-estar animal.
- A preservação dos equilíbrios ecológicos regionais.
- A melhoria da fertilidade do solo e da qualidade da água.
Tipos de agricultura ecológica
Agricultura orgânica
Nasce a partir das teorias do botânico inglês Sir Albert Howard (1873 â 1947), que desenvolveu uma parte importante de sua carreira na Índia. Em seu livro Um testamento agrícola, Howard expõe as bases da agricultura orgânica: solo saudável para melhorar os cultivos, uso de coberturas permanentes e exploração racional dos recursos locais. Para Howard, a conservação da fertilidade do solo é a primeira condição de qualquer sistema permanente de agricultura e, além disso, forma um todo indivisível com a saúde das plantas, dos animais e do ser humano.
Agricultura biodinâmica
Trata-se de uma forma de agricultura criada em 1924 pelo filósofo alemão Rudolf Steiner (1861-1925), tomando como base a antroposofia, um movimento espiritual também fundado por ele. Um de seus pilares centrais é a ideia do organismo-fazenda, ou seja, entender a fazenda como um ser vivo onde cada órgão interage com os demais em benefício do todo e do cosmos. Uma das peculiaridades dessa escola é que usa a posição dos astros para elaborar os calendários agrícolas.
Agricultura natural
Influenciada pelo conceito taoista de wu wei, o biólogo japonês Masanobu Fukuoka (1913-2008) idealizou essa corrente agrícola baseada na não intervenção. Fukuoka seguia princípios como não trabalhar a terra, não usar adubos, fertilizantes ou pesticidas, não arrancar as ervas daninhas ou não podar. Segundo esse modelo, se a natureza soube se desenvolver por si só desde o início dos tempos, a intervenção do homem apenas dificulta esse crescimento natural e gera um trabalho inútil para o agricultor.
Além desses três tipos, existem outras modalidades de agricultura ecológica aceitos mundialmente: permacultura, que busca criar ecossistemas em equilíbrio através de uma abordagem holística ou a agricultura biológica, que se caracteriza pela importância que atribui ao controle biológico de pragas e à teoria da trofobiose, ou seja, a relação entre plantas e insetos.
Vantagens e desvantagens da agricultura ecológica
Entre as principais vantagens da agricultura ecológica cabe destacar:
A produção de alimentos mais saudáveis e nutritivos, além de serem mais saborosos.
Segundo o Greenpeace, a produtividade de alimentos por hectare aumenta cerca de 30 % em relação à agricultura convencional.
A biodiversidade melhora. De acordo com a UE, os campos ecológicos têm aproximadamente 30 % a mais de biodiversidade, o que aumenta a resistência dos cultivos contra as mudanças climáticas.
Diminui o número de pragas utilizando meios naturais, pois introduz insetos benéficos e pássaros que se alimentam dessas pragas.
Ao economizar em produtos químicos, os agricultores ecológicos conseguem ganhar mais dinheiro, contribuindo assim para o desenvolvimento da economia das zonas rurais.
Não contamina o solo ou a água e consome menos energia do que a agricultura convencional, beneficiando o meio ambiente.
As críticas à agricultura ecológica giram em torno de uma suposta incapacidade para alimentar por si só a crescente população mundial, embora não existam estudos conclusivos nesse sentido. Outra crítica, esta apoiada por dados, é que os produtos ecológicos são mais caros para o consumidor, sendo menos acessível para os setores da população de menor renda.