Evolução da população mundial

A evolução da população mundial e seu futuro impacto no planeta

Sociedade

Um estudo publicado em 2020 na prestigiada revista 'The Lancet' contradizia de forma direta a previsão da Organização das Nações Unidas (ONU) em relação ao crescimento da população mundial. Na época, a ONU afirmou que em 2100 o planeta teria 11,2 bilhões de habitantes. A revista indica, por sua vez, que a tendência crescente alcançará seu pico em 2060 e, a partir desse momento, se reduziria até chegar a 8,8 bilhões até 2100, graças à melhoria do nível educacional das mulheres e um maior acesso a métodos contraceptivos.

A população mundial continuará aumentando nas próximas décadas, o que trará consequências para o planeta.
A população mundial continuará aumentando nas próximas décadas, o que trará consequências para o planeta.

Quatro anos depois, a ONU revisou suas projeções e alinhou parte de seus resultados com as estimativas da The Lancet. Em seu relatório World Population Prospects 2024, publicado em julho desse ano, a ONU previu que a população mundial atingiria o pico em meados da década de 2080. De acordo com essas novas projeções, espera-se que a população mundial cresça dos 8,2 bilhões registrados em 2024 para cerca de 10,3 bilhões em meados da década de 2080, seguido de um leve declínio para 10,2 bilhões em 2100. Há apenas uma década, a ONU projetou que, até o final do século, haveria 700 milhões de pessoas a mais do que atualmente.

Crescimento histórico da população mundial

Antes de analisar as tendências atuais e as projeções de crescimento populacional, é importante examinar suas causas. A população mundial mais do que triplicou desde meados do século XX, passando de cerca de 2,5 bilhões em 1950 para 8,2 bilhões na atualidade. Entretanto, a história demonstra que a evolução da população mundial nem sempre acompanhou esse ritmo. Há dois momentos históricos específicos que marcaram a evolução da população mundial:

  • Por um lado, a Revolução Neolítica, que ocorreu entre 10.000 e 8.000 a.C., marcou uma mudança decisiva na história humana. Durante esse período, os seres humanos começaram a dominar a agricultura e a domesticação de animais, permitindo que as comunidades se tornassem sedentárias e liberando mão de obra para atividades como o artesanato. Esses avanços promoveram um crescimento populacional notável, levando a população mundial a um número de cerca de 300 milhões de pessoas.
  • Por outro lado, a Revolução Industrial (1760-1840) provocou uma explosão demográfica sem precedentes. Durante o século XIX, inovações como a siderurgia, a produção em massa, as linhas de montagem e as redes elétricas transformaram as economias e as sociedades. Como resultado, a população mundial dobrou naquele século, enquanto, no século XX, triplicou seu registro até chegar a 6 bilhões de pessoas no ano 2000. Esse crescimento exponencial ocorreu devido aos avanços médicos, científicos e econômicos que melhoraram as condições de vida e reduziram a mortalidade.

Em 2011, a população mundial atingiu a cifra de sete bilhões de pessoas. Apenas 11 anos depois, a ONU estimou que a marca de oito bilhões seria alcançada no dia 15 de novembro de 2022. De acordo com as projeções da ONU, até 2024 a população mundial terá crescido para 8,2 bilhões.

Causas do crescimento populacional

Segundo a ONU, três fatores determinam o crescimento da população mundial:

Taxas de fecundidade

O crescimento populacional depende, em grande medida, das tendências nas taxas de fecundidade. Atualmente, a média global é de 2,3 filhos por mulher, mas se espera que esse número caia para 2,1 até 2050, conforme dados do relatório World Population Prospects 2024 da ONU.

Aumento da longevidade

A expectativa de vida, que sofreu um retrocesso em 2020 e 2021 devido à crise do coronavírus, voltou aos níveis anteriores à pandemia em 2022. A expectativa de vida global ao nascer é atualmente de 73,3 anos e deve chegar a 77,4 anos em 2054, de acordo com as projeções da ONU.

Migração internacional

Embora a migração internacional tenha um impacto menor na mudança geral da população em comparação com os fatores mencionados anteriormente, ela pode ser importante em determinadas regiões. Em países que recebem migrantes econômicos ou um número significativo de refugiados, por exemplo, a migração desempenha um papel relevante. Além disso, em países como Alemanha, Japão e Itália, a imigração líquida ajuda a neutralizar o declínio populacional, atrasando o momento em que ele alcançará seu nível máximo. 

Projeções e tendências na evolução da população mundial

Após estabeler tanto as causas quanto as consequências do crescimento da população mundial, apresentamos algumas das projeções e tendências de acordo com as Nações Unidas.

Seu nível máximo está próximo. A ONU prevê que a população mundial continuará crescendo nos próximos 50 a 60 anos, mas atingirá seu pico em meados da década de 2080 com um registro de 10,3 bilhões de pessoas. Isso representaria um aumento em relação aos 8,2 bilhões registrados em 2024. No entanto, até o final do século, a projeção é de que a população mundial diminua ligeiramente para cerca de 10,2 bilhões.

Em 63 países e regiões, onde vive 28% da população mundial, o número de habitantes já atingiu seu pico, de acordo com dados da ONU. Esses países incluem a China, a Alemanha, o Japão e a Federação Russa.

As taxas de fecundidade no mundo estão diminuindo. A taxa de fecundidade global diminuiu drasticamente nas últimas décadas, passando de 3,3 nascimentos por mulher em 1990 para 2,3 em 2024. Além disso, mais da metade dos países e regiões do mundo têm atualmente taxas de fecundidade abaixo de 2,1 crianças por mulher. Esse é o limite necessário para que uma população mantenha seu tamanho no longo prazo sem considerar a migração.

A expectativa de vida está aumentando. A expectativa de vida global tem apresentado um crescimento constante nas últimas décadas. Em 1995, ela era de 64,9 anos, enquanto em 2024 chegou a 73,3 anos. A projeção é que esse número aumente para 77,4 anos em 2054. Embora a pandemia de COVID-19 tenha causado um declínio na expectativa de vida em 2020 e 2021, desde então ela se recuperou para os níveis anteriores a essa crise global de saúde.

O futuro dos países mais populosos do mundo. A Índia se tornou o país mais populoso do mundo em 2023, superando a China. De acordo com estimativas da ONU, a população da Índia continuará crescendo por várias décadas, alcançando mais de 1,5 bilhão de pessoas até 2100. Em contraste, a China já atingiu seu pico populacional e vem sofrendo um declínio desde 2022. Segundo a projeção, a população da China cairá para 771 milhões até o final do século.

A influência da imigração. O movimento de pessoas entre países será um fator fundamental para o crescimento populacional em 62 nações entre hoje e 2100, de acordo com previsões da ONU. Entre esses países estão a Austrália, o Canadá e os Estados Unidos. A imigração desempenhará um papel crucial na compensação do declínio populacional em muitas regiões, uma consequência direta dos baixos níveis de fecundidade e do envelhecimento demográfico.

Uma população que está envelhecendo. A ONU prevê que, até o final da década de 2070, o número de pessoas com mais de 65 anos ultrapassará o número de pessoas com menos de 18 anos. Essa mudança demográfica ocorrerá devido ao aumento contínuo da expectativa de vida e à redução das taxas de mortalidade observadas desde a década de 2010. Isso destaca o impacto do envelhecimento da população sobre as estruturas sociais e econômicas do futuro.
 

Consequências do crescimento populacional

O crescimento da população mundial tem aspectos positivos para o desenvolvimento sustentável da sociedade, mas também provoca efeitos negativos no planeta, explorando ao máximo recursos como alimentos, água e energia, além de aumentar os níveis de poluição e desmatamento. A seguir, enumeramos algumas das consequências mais importantes.

Mudanças climáticas

As mudanças climáticas estão relacionadas com as alterações do clima atribuídas, direta ou indiretamente, às atividades humanas. Portanto, quanto mais humanos, maior será o impacto no meio ambiente. Um fator fundamental nesse processo são os gases de efeito estufa, que se acumulam na atmosfera e retêm calor, o que aumenta seus efeitos. Isso contribui para o aumento da temperatura média global. Como resultado, os eventos climáticos extremos estão se tornando mais frequentes, incluindo ondas de calor, furacões e inundações. São fenômenos que não apenas causam o deslocamento de populações e danos à propriedade, mas também um aumento de lesões e mortes relacionadas a doenças cardiovasculares e respiratórias.

Redução da segurança alimentar

De acordo com a Organização das Nações Unidas para Agricultura e Alimentação (FAO), a segurança alimentar ocorre quando todas as pessoas têm acesso físico, social e econômico permanente a alimentos seguros, nutritivos e em quantidade suficiente para satisfazer suas necessidades nutricionais. A explosão demográfica afeta os fundamentos da segurança alimentar, ou seja, sua disponibilidade, estabilidade, acesso e consumo. Isso se traduz em desafios importantes para garantir que todas as pessoas tenham acesso a alimentos adequados. Um relatório publicado em julho de 2024 por cinco agências da ONU revelou que 733 milhões de pessoas passaram fome no mundo em 2023. O número equivale a uma em cada 11 pessoas em todo o planeta e uma em cada cinco na África, o que indica a gravidade do problema em regiões particularmente vulneráveis.

Impacto na perda de biodiversidade

A perda de biodiversidade se refere à diminuição ou ao desaparecimento da diversidade de seres vivos que habitam o planeta, desde micro-organismos até ecossistemas inteiros. Esse fenômeno é agravado pelo crescimento populacional, que intensifica a atividade humana e a presença de elementos artificiais em detrimento dos ambientes naturais, um processo característico da era do antropoceno. De acordo com o relatório Planeta Vivo 2024 do Fundo Mundial para a Natureza (WWF), as populações globais de vida selvagem sofreram um declínio médio de 73% entre 1970 e 2020, em apenas 50 anos. Essa alarmante redução destaca o impacto das atividades humanas nos ecossistemas e a urgente necessidade de ações para proteger a biodiversidade.

Superexploração dos recursos

De acordo com as Nações Unidas, o crescimento populacional, aliado à urbanização e à industrialização, está provocando um aumento significativo da demanda por recursos naturais. As projeções da ONU indicam que o consumo global desses recursos crescerá 60% entre 2020 e 2060. Esse cenário representa um risco iminente de uma crise de recursos, que pode se intensificar nas próximas décadas se não forem tomadas medidas urgentes. A mensagem de alerta da organização ressalta a necessidade de implementar estratégias sustentáveis para gerenciar os recursos de forma mais eficiente e mitigar os efeitos do consumo excessivo.

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