Navio oceanográfico Hespérides: Projeto 'Sentinel'

"Alguns Poluentes Orgânicos Persistentes perduram até 30 anos"

Ciência e aventura são, muitas vezes, companheiras de viagem. Begoña Jiménez chegou à Antártida perseguindo o rastro dos Poluentes Orgânicos Persistentes (POP). É uma das cientistas do 'Sentinel', um projeto para medir seu acúmulo e persistência no meio ambiente, dado que essas substâncias podem afetar os seres vivos.

Begoña Jiménez, Pesquisadora do Conselho Superior de Pesquisa de Científica (CSIC em sua sigla em espanhol) no Instituto de Química Orgânica Geral em Madri

Begoña Jiménez, Pesquisadora do Conselho Superior de Pesquisa de Científica (CSIC em sua sigla em espanhol) no Instituto de Química Orgânica Geral em Madri.Locução do vídeo (versão em espanhol) [PDF]

 

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Pergunta: Para onde viajou recentemente e por quê?

Begoña Jiménez, Pesquisadora do Conselho Superior de Pesquisa de Científica (CSIC em sua sigla em espanhol) no Instituto de Química Orgânica Geral em Madri: Neste ano, no mês de janeiro, tive a oportunidade de participar da campanha Antártica espanhola e estive na base Antártica Juan Carlos I. Eu tive a grande sorte de poder participar dessa campanha como pesquisadora em virtude de um projeto de pesquisa que desenvolvemos, um projeto que se chama Sentinel, que é o acrônimo de um projeto que tem como título La Antártida como centinela de la contaminación global.

Pergunta: Em que consistiu este projeto?

Begoña Jiménez: Meu trabalho nesta campanha Antártica consistiu na coleta de amostras. Para desenvolver a hipótese de nosso projeto fazemos uma amostragem, digna da expressão por terra, mar e ar, ou seja, temos que coletar amostras de ar, amostras atmosféricas, assim como amostras de solo, de sedimentos de água do mar, de plâncton, etc. Então, dependendo da matriz ambiental, a complexidade do sistema de amostragem varia.

Pergunta: Que tipos de amostra vocês coletam?

Begoña Jiménez: Nosso projeto Sentinel está focado especialmente nos poluentes orgânicos persistentes. Tal como seu próprio nome indica, são compostos orgânicos persistentes que geralmente se sintetizam para fins industriais, domésticos, agrícolas, etc., e às vezes também aparecem de forma não intencional, por exemplo, em certos processos de combustão. Acho que todo o mundo está familiarizado com as incineradoras de resíduos urbanos que podem chegar a gerar dioxinas, e estas dioxinas classificadas como poluentes orgânicos persistentes são produtos não intencionais, mas digamos que isso é uma pequena minoria. Além disso, esses poluentes orgânicos persistentes se sintetizam em grande escala e, além de serem persistentes, sua alta toxicidade preocupa, devido à sua capacidade de se bioacumular e bioamagnificar ao longo das redes tróficas, assim como pelo fato de poderem percorrer longas distâncias. Por isso nosso projeto nos levou à Antártida, um dos lugares mais remotos do planeta, onde queremos constatar se esses poluentes realmente chegam e onde queremos verificar quais são os processos ambientais que os distribuem nos diferentes ecossistemas.

Pergunta: Quantas amostras vocês coletaram e quanto tempo dedicaram para analisá-las?

Begoña Jiménez: Nós, em uma campanha para a qual nos costumam dar um prazo de três meses que distribuímos entre as diferentes pessoas do projeto de pesquisa, podemos chegar a coletar mais de 400 amostras. Depois de concluído o trabalho nas bases e de as bases serem fechadas, essas amostras ficam armazenadas no Hespérides, que tem retornar à Espanha. Retornou na semana passada com todas as amostras, que já foram retiradas do barco e agora estão nos laboratórios, para começar outro trabalho bastante duro, muito diferente da campanha de campo, um trabalho duro que pode durar aproximadamente dois anos.

Pergunta: Quantas substâncias POP são conhecidas aproximadamente e quais delas são as mais perigosas?

Begoña Jiménez: Atualmente podemos manusear valores da ordem de mais de 100.000 substâncias químicas sintetizadas pelo homem. Muitíssimas delas são tóxicas e, infelizmente, se já delimitamos os poluentes orgânicos persistentes, é especialmente relevante considerar que o Convênio de Estocolmo estabeleceu a famosa Dúzia suja, 12 compostos considerados altamente tóxicos.

Pergunta: Quanto tempo o meio ambiente demora para eliminar uma dessas substâncias?

Begoña Jiménez: Se falarmos de ar, muitos desses pesticidas, que são um POP ou retardantes de chamas, podem estar no ar durante meses. Se mudarmos de matriz ambiental e pensarmos em uma amostra como o solo, aí a persistência será muitíssimo mais alta. Para dar um exemplo mais claro, poderíamos falar de um período de tempo de 30 anos para um pesticida tão conhecido como o DDT.

Pergunta: Essas substâncias podem afetar as pessoas?

Begoña Jiménez: Essas substâncias podem afetar os seres vivos. Há muitos estudos científicos que o demonstram. Entre os efeitos mais chamativos temos as alterações do sistema imunitário, alterações do sistema reprodutor e, fundamentalmente, o que mais preocupa são todas as alterações do sistema hormonal. Por isso, muitos deles são conhecidos como interferentes ou disruptores endocrinos.

Esconde la entrevista

 

  A qualidade do ar que respiramos é saudável?

  Como podemos garantir a saúde e o bem-estar universal?(*)Nota

  Contra as mudanças climáticas

   


(*) Disponível na versão em espanhol.