O QUE É ARTE COMPUTACIONAL
As máquinas podem fazer arte?
Até pouco tempo atrás, a arte era uma capacidade inerente ao ser humano e, portanto, inacessível às máquinas. O aparecimento e a evolução da Inteligência Artificial nos obrigam a repensar se pintura, composição e escrita continuam sendo patrimônio exclusivo da humanidade. O debate está aberto.
A arte, de acordo com a Real Academia Espanhola (RAE), é a "manifestação da atividade humana por meio da qual o real é interpretado ou o imaginado é representado com recursos físicos, linguísticos ou sonoros". Apesar de ser uma referência inevitável para o bom uso da linguagem, o fato é que a RAE foi criada em 1713, quando as máquinas, como pensamos hoje, eram impensáveis.
Muitos avanços foram feitos desde então. Hoje, as máquinas, na forma de software sofisticado, já são capazes de escrever um poema, compor música ou pintar um quadro. A questão é: isso é arte? Como sempre, depende do ângulo a partir do qual você olha. Uma dessas perspectivas é a de Margaret Boden. Para esse filósofo britânico, existem três tipos de criatividade: a combinacional, que mistura ideias existentes; o exploratório, que gera novas ideias, explorando áreas conceituais; e o transformacional, que rompe com estruturas antigas e cria novas áreas. Boden argumenta que as máquinas podem ser competentes nos dois primeiros casos, mas, para o terceiro, pelo menos por enquanto, é necessária uma mente humana. De qualquer forma, o debate já está aberto.
O conceito de arte computacional limita, de certa forma, a discussão. Ele é definido como o estudo e simulação do comportamento criativo humano natural, por meio de programas de computador. Esse conceito é aplicado à criação musical, artística e literária por meio da Inteligência Artificial (IA), ou seja, a recriação da criatividade humana por um computador. Sob este conceito, os robôs podem criar arte. De fato, há apenas alguns meses atrás, a Christie's realizou o primeiro leilão de arte criado pela Inteligência Artificial. Qual foi o resultado? Vendas de aproximadamente 432.500 dólares.
INTELIGÊNCIA ARTIFICIAL COMO FERRAMENTA DE ARTE
Como tudo o que diz respeito à Inteligência Artificial, ninguém sabe ao certo como será a evolução dessa tecnologia no futuro. No entanto, cada vez mais especialistas criam teorias sobre uma nova relação entre homem e máquina, mais focado na colaboração e menos na prevalência de um sobre o outro. "A Inteligência Artificial é uma ferramenta como um pincel. No futuro, ela ajudará os humanos a criar obras de arte interessantes", diz Bas Korsten, diretor executivo de criação da J. Walter Thompson.
Nessa mesma linha, Aaron Hertzmann, professor da Universidade de Toronto e pesquisador principal da Adobe Research, afirma o seguinte: "A criatividade computacional é um amplificador da imaginação: ter as melhores ferramentas para a criatividade permitirá que mais pessoas criem e que os artistas cheguem mais longe do que eles poderiam ir por conta própria."
OS ROBÔS ARTISTAS
Grandes empresas de tecnologia, como o Google, já estão explorando o campo da arte e da robótica. No caso do gigante norte-americano, suas duas primeiras iniciativas são os projetos Magenta e Deep Dream. O último, em particular, é baseado em um software de reconhecimento de imagens que identifica objetos e aplica filtros neles para reinterpretá-los artisticamente, simulando técnicas de aquarela, quadrinhos ou carvão.
A criatividade computacional não vive só da pintura. As máquinas também são capazes de compor músicas, como a criada pelo vencedor do Grammy, Alex Da Kid, usando um sistema de Inteligência Artificial. Por cinco anos, esse músico - ou melhor, o seu software - analisou artigos de jornais, verbetes da Wikipedia, sinopses de filmes, letras de músicas e progressões de acordes até encontrar os temas e ritmos mais populares. Com tudo isso, ele compôs Not Easy, sua primeira música cognitiva. A poesia também não fica de fora dessa tendência tecnológica. WASP (Wishful Automatic Spanish Poet) é um poeta automático desenvolvido por Pablo Gervás, professor da Universidade Complutense de Madrid, que recebe instruções sobre métricas e rimas, é alertado para se inspirar no trabalho de um poeta e começa a compor versos por conta própria.
Nesses últimos casos, a intervenção humana, embora quase simbólica, existe. Mas também existem exemplos de arte computacional que são alheios à participação humana. Dois exemplos. Memória de um transeunte, peça de Mario Klingermann, artista alemão, composta por duas telas que emitem um fluxo constante de imagens com faces distorcidas por algoritmos através de um cérebro de Inteligência Artificial. O curioso é que nenhum desses rostos existiu! O outro, com uma nuance diferente, é o The painting fool. Esse software ou robô artista, criado por Simon Colton, professor da Universidade de Londres, faz download de imagens da internet, cataloga com base em conceitos como alegria, desolação ou pânico e aplica esse aprendizado para criar obras digitais inspiradas por essas emoções.
O valor da emoção frente a robotização(*) Nota
Os templos da arte do século XXI(*) Nota
O 'blockchain' e a indústria da arte
(*) Disponível na versão em espanhol.