Propostas do relatório Draghi para o setor de energia
Resumo do relatório Draghi
O Relatório Draghi, apresentado em setembro de 2024 pelo economista e ex-presidente do Banco Central Europeu, Mario Draghi, é um apelo à ação. Em meio à escalada do protecionismo em todo o mundo, o documento analisa os desafios que a União Europeia enfrentará na próxima década, propõe soluções e quantifica o investimento necessário para implementar cada uma dessas medidas. Saiba o que é o relatório Draghi, quais são seus pontos principais, como ele afeta o setor de energia e suas propostas para uma competitividade real do conjunto conjunto dos 27 Estados-membros da UE.
A economia global está passando por uma profunda transformação. A pandemia do coronavírus paralisou o comércio internacional e alterou a logística das cadeias de suprimentos no mundo, colocando em questão conceitos tão estruturados como a globalização. Porém, quando o mundo pensava que havia superado os principais obstáculos e se preparava para reestruturar suas economias, surgiram circunstâncias mais devastadoras: a invasão russa na Ucrânia, a escalada dos conflitos no Oriente Médio e o aumento das medidas protecionistas dos Estados Unidos e da China.
Nesse contexto de incerteza internacional, a União Europeia (UE) está buscando maneiras de consolidar sua competitividade e garantir seu papel de liderança na economia global com novas regras de jogo. O relatório Draghi – apresentado em setembro de 2024 pelo economista, ex-presidente do Banco Central Europeu e ex-primeiro-ministro italiano Mario Draghi – analisa o grande desafio de garantir que o conjunto dos 27 Estados-membros da UE seja uma potência econômica global.
O que é o relatório Draghi?
The future of European competitiveness Enlace externo, se abre en ventana nueva. (O futuro da competitividade europeia, em português), popularmente conhecido como relatório Draghi, é um documento que analisa a situação da União Europeia na economia global e aponta possíveis medidas para favorecer sua competitividade no futuro. O texto é o resultado do pedido feito pela Comissão Europeia, liderada por Ursula Von der Layen, em 2023 a Mario Draghi para iniciar uma reflexão estratégica sobre a competitividade e o crescimento da UE. Nele, o economista também identifica os desafios que a indústria europeia enfrenta, com uma conclusão clara: a cada ano que a UE coloca em segundo plano o fomento à competitividade, aumenta-se a distância estratégica que existe com as grandes potências, principalmente os Estados Unidos.
Qual é a situação da economia europeia de acordo com o relatório Draghi?
Draghi analisa o ponto de partida da UE e extrai alguns dados importantes:
Três focos de ação para desenvolver a competitividade da União Europeia
Embora os países da UE estejam reagindo a esse novo ambiente, esse processo está ocorrendo de forma fragmentada, o que prejudica uma ação comum do mercado único. Draghi propõe três áreas de ação em conjunto para impulsionar o crescimento econômico:
Redução da brecha de inovação com os Estados Unidos e a China
Um plano conjunto de descarbonização e competitividade
Reforçar a segurança sem depender de terceiros
Redução da brecha de inovação com os Estados Unidos e a China
Um plano conjunto de descarbonização e competitividade
Reforçar a segurança sem depender de terceiros
1. Como reduzir a brecha de inovação com os EUA e a China?
A competitividade da UE está sofrendo uma dupla pressão. Por um lado, as empresas do bloco enfrentam uma demanda externa mais fraca e um crescimento da competitividade chinesa. Por outro lado, o protagonismo da Europa em tecnologias avançadas está em declínio: de 2013 a 2023, sua participação nas receitas globais de tecnologia caiu de 22% para 18%, enquanto a dos EUA aumentou de 30% para 38%.
Tanto os EUA quanto a China assumiram a liderança em inovação, com maiores investimentos na promoção de pesquisa e desenvolvimento (P&D), fomentando start-ups de tecnologia e desenvolvendo setores emergentes, como a Inteligência Artificial (IA) e a implantação do 5G. Enquanto isso, a Europa está especializada em tecnologias já consolidadas e enfrenta diversas questões: um baixo investimento em áreas inovadoras, uma fragmentação do mercado que impede seu crescimento em conjunto e uma falta de grandes empresas de tecnologia em comparação com as dos EUA e da China, o que limita a capacidade de inovação e crescimento econômico.
De acordo com o relatório, a Europa não carece de talento e espírito empreendedor, mas a inovação enfrenta várias barreiras para ocupar uma posição central na economia europeia. A existência de regulamentações restritivas, por exemplo, faz com que muitas organizações importantes busquem financiamento nos EUA: entre 2008 e 2021, aproximadamente 30% dos unicórnios europeus transferiram suas sedes para o exterior, principalmente para os EUA.
Proposta do relatório Draghi:
Nesse contexto, a Europa precisa reorientar seus esforços coletivos para fechar a brecha de inovação com os EUA e a China. A comunidade europeia deve, portanto, aumentar o investimento em P&D, fortalecer a colaboração entre os países, apoiar start-ups e PMEs inovadoras e desenvolver capacidades estratégicas em tecnologia avançada.
2. Um plano para promover a descarbonização e a competitividade
Embora os preços da energia tenham caído consideravelmente desde que alcançaram seus níveis máximos, as empresas da UE ainda enfrentam preços até cinco vezes mais altos que os dos EUA no setor de gás natural. O relatório enfatiza a necessidade de implantar energias renováveis para melhorar a eficiência e a competitividade dessas tecnologias na produção de energia elétrica.
Essa diferença existe por conta de alguns problemas fundamentais no mercado de energia da UE: o investimento em infraestrutura é lento e está longe de ser o ideal, tanto para as energias renováveis quanto para as redes elétricas; ou as regras de mercado impedem que as indústrias e as residências aproveitem todos os benefícios das energias limpas em suas contas de luz. No entanto, um dos principais fatores nesse caso é a tributação da energia, que é muito mais alta do que em outras partes do mundo, o que acrescenta um imposto extra aos preços e prejudica a competitividade do setor de energia e da região europeia como um todo. Draghi adverte que as crises do futuro podem trazer essas questões de volta à tona.
Proposta de relatório de Draghi:
O relatório destaca a necessidade de acelerar a transição para uma economia livre de carbono, principalmente em setores-chave como energia, transporte e indústria. Um fator fundamental é a necessidade de reduzir impostos e encargos sobre os preços da energia para fomentar a competitividade e a transição para um modelo sustentável. A UE também deve estimular a inovação tecnológica e o investimento, criar um ambiente regulatório favorável e alinhar as políticas climáticas com as políticas industriais para que o bloco não perca o dinamismo.
3. Principais pontos para consolidar a segurança sem dependências
Decades of globalisation have produced a high level of "strategic interdependence". For example, while the EU needs China for critical minerals, China depends on the EU to absorb its industrial overcapacity. A total of 75–90% of chips are manufactured in Asia, exacerbating vulnerability in the technology sector, according to the Report. The energy sector is not free from this dependence on external countries, especially in raw materials such as gas and oil.
The global balance is shifting due to deteriorating geopolitical relations and international conflicts, and all major economies must increase their independence to prevent price fluctuations or supply disruptions.
Proposta de relatório de Draghi:
A UE deve fortalecer sua cadeia de suprimento de matérias-primas por meio de acordos de fornecimento com novos parceiros (como a África ou a América Latina) e alianças entre os Estados-membros. O bloco também deve desenvolver suas próprias tecnologias e autonomia digital – principalmente em áreas como semicondutores, IA ou 5G/6G –, reforçar sua autonomia energética diversificando as fontes de energia e fortalecer a defesa e a segurança.
Aplicações do relatório Draghi no setor de energia
O setor de energia ocupa um papel central no relatório Draghi como um setor fundamental para promover a competitividade da UE. Para o economista, os principais pontos em questão são acelerar a descarbonização e garantir a sustentabilidade do fornecimento de energia do continente. Nesse contexto, Draghi ressalta que a realização ou não desta transição energética depende da capacidade da Europa de explorar ao máximo as tecnologias disponíveis.
O caminho é claro: é preciso seguir um plano conjunto para promover a descarbonização e aumentar a competitividade no setor de energia. Estas são algumas das principais propostas do relatório:
Propostas para o gás natural
O relatório Draghi propõe estabelecer de acordos de fornecimento de gás diversificados e de longo prazo para acabar com a tradicional dependência da Rússia, promover mecanismos conjuntos de compra de gás, desenvolver infraestruturas estratégicas de armazenamento e importação, fortalecer a regulamentação financeira para evitar a especulação e descarbonizar o setor apostando no hidrogênio verde e em outros gases renováveis.
Propostas para o setor elétrico
Entre as medidas específicas para o setor elétrico, o documento defende: simplificar os procedimentos administrativos para a implantação de energias renováveis; manter a formação de preços marginais como elemento básico para o despacho eficiente da geração e da demanda; incentivar a contratação a prazo e a promoção de contratos de compra de energia (PPAs) entre grandes consumidores industriais e geradores de energia renovável; promover o investimento em redes para permitir a eletrificação da economia e evitar que seja um obstáculo; acelerar a aprovação de mecanismos de capacidade e flexibilidade para garantir a segurança do fornecimento; manter a capacidade nuclear existente (por se tratar de geração competitiva) e acelerar o desenvolvimento de novas usinas nucleares (inovação industrial na UE); e incentivar o autoconsumo em setores industriais com alta demanda de eletricidade.
Além disso, o texto propõe a redução de impostos e encargos sobre os preços da energia, que, em muitos casos, são usados para financiar os orçamentos públicos, inclusive com a harmonização de um teto europeu.
"Com o tempo, a descarbonização ajudará a direcionar a geração de energia para fontes de energia limpas, seguras e de baixo custo. Mas sem um plano europeu, levará muito tempo até que todos os benefícios sejam sentidos pelos usuários finais."
Mario Draghi, economista e ex-presidente do Banco Central Europeu
Plano de investimento para o crescimento sustentável da União Europeia
Para financiar essa estratégia, Draghi estima que será necessário um investimento anual adicional de pelo menos 750 a 800 bilhões de euros, equivalente a quase 5% do PIB da UE em 2023. O economista ressalta que esse investimento aumentaria a produção europeia em 6% em 15 anos.
O ex-premiê italiano afirmou em uma coletiva de imprensa após a publicação do relatório que os "ativos comuns", como ele se refere à emissão de dívida comum, "são um instrumento" para financiar esse plano e aumentar a competitividade da UE. Embora tenham sido vistos de forma negativa após a crise financeira, Draghi acredita que seria positivo usar esses ativos para financiar projetos ligados à pesquisa e desenvolvimento e também à defesa. O economista também se mostrou a favor de reorientar o orçamento para prioridades estratégicas e de criar incentivos para o investimento privado.
O papel fundamental da Iberdrola na transição energética
Na Iberdrola, começamos a apostar nas energias renováveis há mais de duas décadas como um pilar fundamental sobre o qual construir nosso modelo de negócios limpo, confiável e inteligente. Nosso propósito nos levou a ser hoje líderes mundiais em diferentes tipos de tecnologias renováveis. Com uma estratégia focada na descarbonização, na Iberdrola trabalhamos com a implementação de energias limpas em todo o mundo e desenvolvemos nossas atividades em dezenas de países, principalmente na Espanha, no Reino Unido, nos Estados Unidos, no Brasil e no México.
Esse compromisso também é evidente em nosso propósito de mobilizar grandes investimentos em tecnologias e infraestruturas de energia sustentável, conforme refletido em nosso Plano Estratégico. Além disso, conscientes do nosso papel como força motriz e referência em eletrificação para muitas outras empresas, contamos com uma ampla experiência na área de PPAs.
Nosso compromisso com as energias limpas e as redes inteligentes reforça as metas de descarbonização estabelecidas pela UE, mas também melhora a competitividade da Europa ao avançar rumo a um mercado de energia autônomo baseado em fontes renováveis mais baratas e mais seguras.