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- Tribuna -

2023-01-20 13:59:00.0

O clima ameno salvou a Europa neste inverno. Isto é o que precisamos fazer para evitar futuras crises energéticas

O inverno ameno da Europa pode ter sido um desafio para os esquiadores, mas o resto do continente respira com alívio.

Com exceção de uma onda de frio em dezembro, a maior parte da Europa aproveitou temperaturas excepcionalmente altas neste inverno. E com a primavera chegando, é provável que evitemos uma crise energética que poderia ter causado sérias problemas às indústrias e a milhões de casas em toda a Europa.

Nos últimos meses, a Europa tem tomado medidas para modular o consumo, abastecer as instalações de armazenamento de gás e maximizar a coordenação. No entanto, um inverno rigoroso teria representado um grande desafio para todos.

Reconhecendo isso, precisamos fazer um esforço conjunto nos primeiros meses de 2023 para garantir que a segurança energética não seja deixada de lado no próximo inverno e nos anos que virão. Seria absurdo continuar dependendo do clima para socorrer um sistema energético europeu excessivamente dependente das reservas estrangeiras de combustíveis fósseis.

Atualmente, cerca de 80% das necessidades energéticas do mundo são atendidas por combustíveis fósseis.

Se existe um momento em que precisamos mudar de rumo e reformular radicalmente a maneira como produzimos e consumimos energia, esse momento é agora. A atual tragédia da invasão da Ucrânia é a última de uma série de crises mais amplas que têm como fator comum as implicações sobre o petróleo e o gás.

2023 é o ano para finalmente acabar com esse ciclo através de investimentos sustentados e inovação na geração de energia limpa e nas redes elétricas.
É por isso que na Iberdrola estabelecemos cinco áreas claras de ação para este ano, que representam cinco fundamentos para avançar de maneira mais rápida em direção à segurança energética verde.

 

Promover a utilização de energias renováveis


Os parques eólicos e solares estão se tornando cada vez mais comuns, mas a tarefa de descarbonizar a geração de eletricidade está longe de estar terminada. Mesmo o Reino Unido, que realizou grandes avanços na implantação de energias renováveis nos últimos anos, ainda dependerá do gás e do carvão para 40-50% de sua produção de eletricidade em 2022.

Um dos maiores obstáculos para aumentar a participação das energias renováveis no mix energético continua sendo o planejamento e a concessão de licenças. Até agora, muitos países anunciaram metas e ambições de energia renovável sem considerar o contexto mais amplo. Precisamos mais do que retórica. Precisamos dos mecanismos para fornecer energias renováveis, que devem ser integradas e priorizadas nas políticas de planejamento e nos processos de licenciamento ambiental.

É necessária uma maior geração de energia renovável, mas se as redes elétricas que transportam essa energia limpa não estiverem à altura, o investimento acaba sendo inútil.

Precisamos de um investimento sustentado e bem planejado nessas redes.
 

Modernizar as redes elétricas


Globalmente, a geração de energia renovável aumentará cinco vezes até 2040. Os níveis de demanda de eletricidade também aumentarão devido a um maior uso de carros elétricos e sistemas de aquecimento com baixa emissão de carbono. Somente nos EUA, a rede elétrica precisará se expandir em pelo menos 60% até 2030. Com base em desenvolvimentos históricos, isso representa um século de trabalho a ser completado em menos de uma década.

As redes elétricas são a espinha dorsal do fornecimento de calor e da transmissão de eletricidade, o aglutinador que mantém nosso sistema de energia unido. Mais uma vez, o planejamento e a autorização são os principais culpados por trás do atraso até o momento. Os reguladores que supervisionam as redes de energia em todo o mundo reconhecem cada vez mais a necessidade de serem mais ágeis, clarividentes e dispostos a aceitar investimentos "sem arrependimentos", mas ainda há espaço para melhorias.

Hidrogênio verde


Esse combustível, crucial para descarbonizar partes fundamentais da indústria pesada e dos setores de transporte, tem sido um assunto muito debatido. Chegou a hora de dar passos significativos para expandir a utilização do hidrogênio produzido a partir de energia renovável, o único verdadeiramente sustentável (e cada vez mais competitivo em relação ao hidrogênio azul ou cinza, que é produzido a partir de combustíveis fósseis).

Para que o hidrogênio verde contribua para a descarbonização de setores como a produção de amônia ou metanol, ele deve estar em pé de igualdade. Atualmente, o hidrogênio verde (de energia renovável) é mais caro de produzir do que o hidrogênio cinza (de combustíveis fósseis). Entretanto, o hidrogênio cinza apresenta o custo de altas emissões de carbono e nos mantém dependentes de combustíveis fósseis.

 

 

Inovação


Nunca é demais enfatizar a importância da inovação em escala para promover a implantação ideal de energias renováveis, redes, veículos elétricos e sistemas de armazenamento de energia. Na Iberdrola, publicamos recentemente nossos planos de duplicar os gastos com inovação até 2030.

A Agência Internacional de Energia declarou recentemente, de forma encorajadora, que os gastos públicos globais em pesquisa e desenvolvimento energético foi 5% maior em 2021 do que em 2020. Mas isso ainda não é suficiente. As empresas e os governos precisam seguir sendo valentes, apesar de um ambiente de recessão mais duro e condições de investimento mais rigorosas. 

Por último, não devemos perder de vista o prêmio a longo prazo da descarbonização. O ano de 2022 foi caracterizado por intervenções governamentais de curto prazo, reativas e frequentemente imprevisíveis no mercado de energia: impostos imprevistos redigidos de forma confusa, esquemas de apoio aos preços à beira do abismo e reversões para tecnologias antigas e poluentes no último minuto.

2023 tem que ser diferente. É o ano para mostrar liderança, ser decisivo e nos colocar a todos em um caminho sustentável para sair de uma crise causada por uma dependência excessiva dos combustíveis fósseis.

Para proteger os cidadãos e nossas economias nos próximos anos, devemos confiar no nosso bom senso e não depender da sorte.

* Este artigo apareceu originalmente em Fortune.com