Pacto global ONU: Entrevista com Sánchez Galán

A transição energética, uma oportunidade de negócios

Economia Entrevistas

 

Setembro de 2018.    Tempo de leitura: 3 minutos

O jornal 'El País' publicou em 25 de setembro de 2018 uma entrevista com o presidente da Iberdrola, Ignacio Galán, por ocasião de sua participação na 'UN Global Compact 2018' em Nova York (EUA) Galán confessa que se sente satisfeito pelo fato de uma empresa espanhola ter sido reconhecida por seu trabalho na luta contra o aquecimento global.

Ignacio Galán diante da sede da ONU em Nova York.
Ignacio Galán diante da sede da ONU em Nova York.

A luta contra o aquecimento global é, além de uma obrigação moral, uma oportunidade de negócios

Para Ignacio Galán, a luta contra o aquecimento global é, além de uma obrigação moral, “uma oportunidade de negócios”. Nesse sentido, não hesita em dar como exemplo a evolução da Iberdrola, reconhecendo que, “graças a uma estratégia alinhada há 20 anos com a ação pelo clima, que envolveu investimentos de mais de 100 bilhões de dólares — ao câmbio atual, mais de 85 bilhões de euros — em energias renováveis, redes inteligentes e armazenamento eficiente, nossa empresa é atualmente mais limpa, rentável e global”. O presidente da Iberdrola também defende que graças à transformação da empresa, ao ter optado pelas energias renováveis, atualmente é cinco vezes maior do que quando chegou em 2001.

O preço do CO2 como palanca de mudança na Europa

O mercado de CO2 Nota foi criado para incentivar o uso e o investimento em tecnologias de baixa emissão e, simultaneamente, reduzir o uso das energias mais emissoras. O presidente da Iberdrola garante que “o sistema consiste em leilões, realizados em âmbito europeu, onde os Estados vendem os direitos e os agentes devem comprar o CO2 que supostamente vão utilizar. Na época os Estados concederam direitos gratuitamente, que fizeram com que o mercado do CO2 ficasse deprimido”. Ignacio Galán afirma que, após o anúncio da retirada de 900 milhões de toneladas de CO2 a partir de janeiro de 2019, se criou o espírito de escassez, o que derivou no aumento do preço nos leilões. Em consequência disso, “os Estados estão arrecadando mais dinheiro: A Espanha, por exemplo, no ano passado arrecadou cerca de 500 milhões e este ano pode arrecadar 1,4 ou 1,5 bilhão”.

O problema reside em que "esses fundos do mercado de CO2 estão longe de serem utilizados para fomentar as renováveis". Para Galán, o caso espanhol é simples: "Com o que está sendo arrecado, os impostos deveriam ser tirados do que se tributou para pagar as subvenções das energias renováveis anteriores. Assim se reduziria automaticamente o montante da fatura, que é em certa medida o que o Governo faz agora eliminando o imposto de 7% de geração. Mas isso foi feito de uma forma geral e deveria ter sido feito com caráter particular, por tecnologias."

A energia nuclear na Espanha

Para o presidente da Iberdrola, “o carvão não tem viabilidade e o fim será em 2020, 2022 ou 2025”. Primeiro porque a "Espanha não tem carvão". Essa é a causa fundamental, mas não devemos deixar de lado a questão econômica: "se as usinas precisam de investimentos de vários bilhões de euros para prolongar a vida durante 10 anos, será necessário fazer os cálculos".

O carvão não tem viabilidade e o fim será em 2020, 2022 ou 2025

Galán não se declara antinuclear nem pró-nuclear, mas é bastante claro: "É um assunto econômico. As usinas são seguras, eficientes e dispendiosas. A energia nuclear é cara."

Fiscalidade ambiental e preço da luz

Ignacio Galán não hesita em afirmar que "é necessário aplicar o princípio do poluidor-pagador, ou seja, quem polui paga" e reconhece que, de acordo com um estudo de planejamento interno, "são necessários de 70 a 100 bilhões para que 80% da geração de eletricidade seja renovável até 2030... Com esses 70 ou 100 bilhões de investimento até 2030, o preço da energia pode sofrer uma redução substancial. Agora mesmo estamos em níveis de 60 euros por megawatt, mas poderíamos estar em 40 ou 50, tal como nos leilões de energia eólica e solar. Se o Governo anterior não tivesse paralisado as energias renováveis e tivesse investido mais, o preço da eletricidade seria menor".

É necessário aplicar o princípio do poluidor-pagador

Parque eólico da Amazon US East (Carolina do Norte, EUA).
Parque eólico da Amazon US East (Carolina do Norte, EUA).

Galán também defende que "não se deve punir quem faz o necessário para manter a competitividade, é preciso diferenciar de quem não o faz. Fala-se muito de transição justa e estou 100% de acordo".
 

  Perfil do presidente

  A Iberdrola e a transição energética