Infraestrutura para a mobilidade elétrica

Nossas estradas estão prontas para a revolução dos veículos elétricos?

Carros elétricos Mobilidade elétrica

Até 2040, mais da metade (57 %) das vendas de automóveis de passageiros será elétrica, enquanto os ônibus elétricos dominarão completamente o mercado, compreendendo mais de quatro quintos das vendas (81 %), segundo os analistas de energia limpa BloombergNEF (BNEF). O entusiasmo por uma próxima revolução de veículos elétricos (EV nas siglas em inglês) é palpável em muitos setores, mas praticamente falando, ainda parece um longo caminho a percorrer.

Carretera
Os veículos elétricos precisam ser integrados no contexto de todas as outras mudanças que ocorrem no sistema de energia.

Até agora, as principais barreiras à adoção do veículos elétricos têm sido o medo dos motoristas de ficar sem energia, conhecido como "ansiedade de alcance", e um número limitado de modelos de veículos elétricos no mercado. No entanto, Espen Hauge, presidente da Associação Europeia de Eletromobilidade e também da Associação Norueguesa de Veículos Elétricos, diz que estas questões estão bem encaminhadas para serem resolvidas, já que nos próximos anos chegarão ao mercado centenas de novos modelos com uma autonomia de 300 quilômetros ou mais.

O próximo obstáculo a ser superado é a falta de pontos de recarga. Para que o mercado realmente avance a partir daqui, "precisamos de mais infraestrutura de recarga", diz Hauge. "Na Noruega, que tem uma das maiores penetrações de veículos elétricos, isso está se tornando um problema porque estamos começando a ter muito mais carros na estrada. Se não tivermos instalações de recarga rápida, haverá filas de espera".

"É verdade que ainda estamos muito perto do início da viagem do veículo elétrico", diz Hauge. "Mas o número de pontos de carga está aumentando, assim como as vendas de automóveis, e um número de cidades, regiões e estados estão estabelecendo metas". 

Essa infraestrutura de recarga está começando a aparecer graças a uma combinação de incentivos governamentais e à chegada ao mercado de várias partes com o poder financeiro necessário para empreender o investimento necessário, incluindo as principais petroleiras Shell (proprietária da New Motion) e BP (Chargemaster), concessionárias como Engie (EV Box) e Fortum (Plugsurfing) e fabricantes de automóveis como BMW e Daimler (Digital Charging Solutions). O Plano de Mobilidade Inteligente da Iberdrola inclui a implantação de cerca de 110.000 pontos de recarga de veículos elétricos*.

As empresas de serviço público e as operadores de rede têm estudado por vários anos como o crescimento do mercado de veículos elétricos afetará os geradores de eletricidade, diz Barry Carruthers, Chefe de Inovação da Scottish Power. "Este vai ser um desafio para os reguladores e modelos de negócios no setor de redes. Precisamos investir em redes".

Os veículos elétricos também precisam ser integrados no contexto de todas as outras mudanças que ocorrem no sistema energético, acrescenta, como a eletrificação da rede de calefação, o aumento da proporção de energias renováveis que produzem eletricidade, e a necessidade de uma rede de recarga abrangente, em casa, nos locais de trabalho e em lugares onde as pessoas possam recargar quando estão fora de casa. Também é preciso que sejam integrados com políticas de transporte mais amplas que incentivem as pessoas a deixar os carros e a utilizar o transporte público.

"Pontos de recarga pública e abertos a todos serão importantes, não apenas na rua, mas em lugares como supermercados, parques comerciais e centros de lazer. Estamos começando a lançar carregadores públicos em parceria com autoridades e empresas locais", diz ele.

Embora os veículos elétricos intensifiquem a demanda de eletricidade, não aumentarão tanto quanto muitas pessoas pensam, porque os veículos elétricos são três a quatro vezes mais eficientes do que os veículos de combustão interna, aponta Carruthers. Mesmo assim, o aumento da recarga precisará ser gerenciado através do uso de carregadores inteligentes que não aumentem a tensão no sistema nas horas de pico. "Lançamos uma tarifa doméstica de tempo de uso para que as pessoas possam recarregar a baixo custo durante a noite usando um carregador inteligente", explica.

Outro fator-chave será o crescimento do mercado de carros usados para o setor, diz Carruthers. "Os primeiros usuários tiveram seus carros durante três a cinco anos e agora estão começando a comprar veículos de segunda geração, por isso que os veículos elétricos usados estão chegando ao mercado. Esse será o ponto de virada, porque as pessoas não precisam gastar 45.000 libras para adquirir um carro elétrico".

O mercado está se movendo de maneira tão rápida que os reguladores estão lutando para proporcionar o ambiente favorável que o setor precisa. "Com as rápidas reduções de preços, a política positiva e o impulso da emergência climática, não é surpresa que a regulamentação esteja ficando para trás, mas se os reguladores não atuarem a tempo, a adoção de veículos elétricos será mais lenta do que poderia ser", acrescenta Carruthers.

"A eletrificação ainda levará tempo porque a frota global avança lentamente", diz Colin McKerracher, chefe de transporte avançado da BNEF, "mas, uma vez que ela comece nos anos 2020, começará a se espalhar para muitas outras áreas do transporte rodoviário. Vemos uma possibilidade real de que as vendas mundiais de carros convencionais já tenham ultrapassado seu pico".

*Atualizado em junho de 2022
Fonte: FT