DEFICIÊNCIA VISUAL

Signografia sem barreiras: Braille

Ação social Diversidade Integração

O Dia Mundial do Braille é comemorado no dia 4 de janeiro para conscientizar a respeito da importância do braille, o meio de comunicação utilizado por pessoas cegas e com deficiência visual para a plena realização dos direitos humanos.

O braille é um sistema de leitura que é lido com os dedos de ambas as mãos e permite que pessoas cegas se comuniquem.
O braille é um sistema de leitura que é lido com os dedos de ambas as mãos e permite que pessoas cegas se comuniquem.

A Organização Mundial da Saúde estima que cerca de 314 milhões de pessoas no mundo possuem algum tipo de deficiência visual, das quais 45 milhões são cegas. Esta população, como os que veem, precisa ler e escrever para ter acesso à informação e comunicação escrita e, em particular, à educação, cultura, assuntos atuais e qualquer procedimento ou trâmite que condicione sua vida diária. O braille ou a signografia, através do sentido do tato, é o código que permite que eles alcancem este objetivo fundamental. Mas o que é isso e como funciona?

O QUE É SIGNOGRAFIA

O braille é uma representação tátil que usa pontos para representar cada letra e número, e até mesmo símbolos musicais, matemáticos e científicos. Este sistema de escrita é usado por pessoas cegas ou deficientes visuais para ler os mesmos livros e publicações que os impressos para a leitura visual, de acordo com a Organização das Nações Unidas (ONU). A ONU afirma que o objetivo é "garantir a comunicação de informações importantes para essas e outras pessoas e representa competência, independência e igualdade". 

A signografia não é apenas um método de leitura e escrita. O braille é um meio de comunicação para pessoas cegas, como indicado no Artigo 2 da Convenção sobre os Direitos das Pessoas com Deficiência, e é considerado relevante nos contextos da educação, liberdade de expressão e opinião e acesso à informação e comunicação escrita, assim como no contexto da inclusão social para pessoas cegas, como representado nos Artigos 21 e 24 da Convenção. Não se trata de uma língua, mas de um alfabeto reconhecido internacionalmente.

ORIGEM DO BRAILLE

Valentin Haüy, um funcionário público francês que viveu durante o século XVIII, fundou o Instituto Nacional dos Jovens Cegos em Paris, a primeira escola do mundo para deficientes visuais, e idealizou um sistema de leitura e escrita. Projetado para ser decifrado pelo toque, utilizava moldes de letras invertidas que, quando imersos em tinta, eram prensados em papel úmido. Quando a folha era virada, os caracteres apareciam em relevo. Este sistema exigia que os alunos passassem lentamente os dedos por cada letra do início ao fim para formar palavras e frases.

Entretanto, a verdadeira universalização de um sistema de leitura e escrita para cegos veio de Louis Braille, um jovem francês que havia perdido a visão após um acidente com uma ferramenta na oficina de artesanato de seu pai. Graças a uma bolsa de estudos, ele entrou para o Instituto Nacional dos Jovens Cegos em 1819 e decidiu aperfeiçoar o sistema criado por Haüy. 

O braille foi baseado no trabalho de Charles Barbier, um capitão do exército francês que duas décadas antes havia inventado a escrita noturna, um código de doze pontos em relevo desenvolvido para que os soldados pudessem ler mensagens no campo de batalha no escuro, sem a necessidade de acender lanternas para alertar o inimigo. O jovem reduziu os pontos a seis que, escritos em relevo e combinados entre si, formavam as letras do alfabeto, números e até notas musicais. O método de escrita em braile se espalhou rapidamente pela Europa e pelos Estados Unidos em 1879, quando decidiram que seria usado como um sistema universal de ensino em todas as escolas para cegos. 

COMO FUNCIONA O ALFABETO BRAILLE

O braille é lido com os dedos de ambas as mãos, principalmente com os dedos indicadores. A signografia é baseada em seis pontos em relevo, dispostos em um gerador de símbolos, ou seja, uma matriz de três filas por duas colunas, numeradas convencionalmente de cima para baixo e da esquerda para a direita. A combinação dos seis pontos permite 64 combinações diferentes, incluindo a sem nenhum ponto, que é usada como um espaço em branco. A presença ou ausência de pontos determina a letra, número ou simbologia a ser lida. Além disso, é necessário utilizar sinais complementares que, quando colocados diante de uma determinada combinação de pontos, convertem uma letra em maiúscula, em itálica, um número ou uma nota musical.

O braille foi desenvolvido para representar o alfabeto latino, especificamente o alfabeto francês, com suas características específicas (diacríticos e cedilha). No entanto, suas características atuais dependem dos alfabetos dos diferentes idiomas:

  •  Os idiomas do alfabeto latino utilizam o mesmo braille. Um "A" é representado pela mesma combinação de pontos.
  •  Se o idioma utiliza o alfabeto latino com diacríticos (acentos, cedilhas, etc.) ou outras letras (por exemplo, a "ñ" do espanhol ou o "ß" ou eszett do alemão), ele utilizará alguns caracteres específicos. Como as combinações são limitadas, é possível que um símbolo represente letras diferentes, dependendo do idioma. Por exemplo, a "ñ" do espanhol usa o mesmo símbolo que o"ï" em outros idiomas.
  •  Se a língua não usa o alfabeto latino, mas um por fonemas (grego, cirílico, árabe, hebraico), é usado o símbolo braille correspondente ao seu som equivalente no alfabeto latino. Em outras palavras, a letra grega alfa ou a letra hebraica alef são representadas pelo símbolo em braille para "A".
  •  Nos idiomas que utilizam outros tipos de caracteres, como ideogramas ou sílabas (chinês, japonês, coreano), os símbolos em braille são completamente redistribuídos (japonês, coreano) ou transcritos foneticamente (chinês).
  •  Alguns símbolos em braille que não correspondem a nenhuma letra em um determinado idioma podem ser usados para representar dígrafos, abreviaturas ou palavras comuns. Por exemplo, em inglês, há símbolos para palavras como and, for ou the e para dígrafos como sh, th ou ea.

O braille pode ser reproduzido manualmente usando um ferro e um estilete, de modo que cada ponto seja gerado no verso da página, escrito na posição inversa. Também podem ser impressos com uma máquina de escrever em braille, com uma impressora em braille conectada a um computador ou por meio de um dispositivo em braille. Além da signografia, as pessoas com deficiência visual podem utilizar outras tecnologias inclusivas, como leitores de tela.

Como funciona o sistema Braille?
Como funciona o sistema Braille?

  VER INFOGRÁFICO: Como funciona o sistema braille [PDF]

A IMPORTÂNCIA DO BRAILLE COMO ELEMENTO DE INCLUSÃO

A ONU aponta que os deficientes visuais correm um maior risco do que os outros de acabar na pobreza, de ter uma saúde mais precária e de encontrar obstáculos para a educação e o trabalho. Neste sentido, a Assembleia Geral decidiu em 2018 proclamar o dia 4 de janeiro como o Dia Mundial do Braille, um feriado que começou a ser comemorado um ano depois. A escolha da data não é casual, pois coincide com o nascimento do criador do sistema, Louis Braille, no dia 4 de janeiro de 1809. O objetivo é destacar que o acesso à leitura e à escrita é um requisito essencial para que os deficientes visuais possam usufruir plenamente dos direitos e das liberdades fundamentais e viver de maneira digna e plena.